O TRABALHO DE LEITURA E DE PRODUÇÃO DE TEXTOS
Algumas crianças chegam ao nível alfabético apresentando dificuldades, tais como:
Þ alunos que lêem alfabeticamente e ainda produzem escritas silábicas;
Þ alunos que já escrevem quase alfabeticamente e não decodificam um texto convencional.
Isso acontece porque a leitura e a escrita não foram desenvolvidas, até então, de forma correlacionada durante o processo de aprendizagem.
O professor atento a essas dificuldades, que são normais no nível alfabético, propiciará aos alunos oportunidades para vincular as ações de ler e de escrever. A possibilidade de exercê-las num mesmo contexto auxilia o domínio de ambas.
A prática de produção de textos é uma atividade essencial ao longo de todo o processo de alfabetização. No nível alfabético, a criança já é capaz de escrever sozinha os seus próprios textos. A criança já possui um mínimo necessário de discriminação do significado de cada uma das unidades lingüísticas.
A sílaba escrita é a ponte de comunicação entre letra, palavra e frase, de modo a dar-lhes uma significação própria porque diferenciada.
A produção de textos é uma atividade expressiva e criativa que envolve reflexão constante, uma reflexão lógica.
Essa reflexão é de suma importância em todas as ações inteligentes para decidir como se escrevem palavras cuja escrita não está memorizada.
A leitura de textos, por sua vez, envolve a seleção pelo professor dos tipos de textos que serão oferecidos aos alunos de primeira série ou pré-escolar, já alfabéticos, tendo em vista oferecer experiências múltiplas, concretas e reais com o verdadeiro uso da coisa escrita na vida de alguém.
A produção de textos pode ser individual ou coletiva. O importante é que a criança de primeiro ano do primeiro ciclo do Ensino Fundamental ou pré-escolar leia e escreva muito, e que todas as suas produções sejam muito valorizadas pelo professor e outros.
Cada criança escreve do seu jeito e não há "certo" ou "errado" neste momento. O texto produzido pelo aluno é como um desenho ou qualquer outra forma de manifestação expressiva. Não cabe, absolutamente, qualquer forma de correção ou de modificação.
Esses textos são um indicador valioso sobre o andamento do processo de aprendizagem dos alunos. Eles fornecem dados que poderão ser utilizados em outras atividades de escrita.
É preciso que, em alguns momentos, o professor se torne o escriba da turma, porque é indispensável para o aluno poder perceber atos de escrita de pessoas alfabetizadas, seja na escrita de textos, palavras ou letras. Isso possibilita ao aluno a análise de aspectos espaciais e motores envolvidos, bem como a direção que se segue ao escrever (da esquerda para a direita), os tipos de sinais gráficos utilizados (letras, sinais de pontuação), tipos de letras e suas modalidades, a ortografia das palavras, como também observar que se escreve tudo (e não só os substantivos). É importante que o professor leia o texto escrito para as crianças, apontando, com um a régua, o que está lendo.
Os textos são trabalhados em sala de aula para serem analisados nos dias subsequentes à sua produção. Nesse sentido, devem ser expostos na parede, para visualização dos alunos, em dois tipos de letras - cursiva e de imprensa. Poderão ser transcritos para os alunos, que os utilizarão em inúmeras atividades e explorações didáticas, assumindo características diferentes para os alunos de acordo com seu nível psicogenético.
Sugestões de atividades para o trabalho com textos
As atividades devem ser elaboradas e/ou selecionadas pelo professor visando aos alunos em situações desiguais dentro da psicogênese. Dificilmente todos os alunos de uma classe estarão ao mesmo tempo num mesmo nível conceitual.
Uma mesma atividade pode ser trabalhada com crianças em vários níveis no processo de aquisição da escrita e da leitura, contanto que ela englobe um espaço amplo de problemas e que o professor provoque, diferentemente, com questões e desafios adaptados aos alunos em situações desiguais, reconhecendo e valorizando as suas respostas e comportamentos frente ao que foi proposto.
Assim, as atividades aqui sugeridas podem atender também a outros níveis, que não apenas ao alfabético; o que muda é o foco de interesse didático.
Þ Produção de texto a partir do desenho do aluno.
Þ Exploração dos textos individuais com toda a classe.
Þ Sugerir a escrita de textos a partir de outros textos já conhecidos pelos alunos: letras de música, poesias, histórias memorizadas, descrição de brincadeiras, regras de jogos etc. (também podem ser utilizados para leitura e análise).
Þ Produção de textos coletivos sobre acontecimentos ou interesses dos alunos naquele momento.
Þ Atividades a partir de um texto:
- leituras globais ou parciais;
- reconhecimento de palavras, frases ou letras no texto;
- análise de palavras do texto quanto ao número de sílabas e de letras, quanto à letra inicial ou final etc.;
- ditado de palavras e frases relativas ao texto trabalhado;
- copiar palavras do texto com uma, duas, três sílabas etc.;
- marcar, no texto mimeografado, nomes próprios e comuns, rimas, palavras no singular e no plural etc.;
- remontagem do texto com fichas de frases ou palavras;
- produção de um desenho para ilustrar o texto;
- separar frases em palavras;
- cópia do texto estando marcados apenas os espaços (atividade mimeografada);
- completar lacunas de palavras;
- escolher palavras do texto e elaborar pequenas frases;
- ditar palavras do texto para um colega e vice-versa;
- registrar, à frente das frases, o número de palavras que a compõem;
- montar frases com fichas das palavras do texto;
- produções de histórias em quadrinhos.
Þ Análise de palavras numa frase ou texto (separação em palavras a partir da análise oral). Contar número de palavras numa frase ou texto a partir de suas palavras (texto ou frase fatiadas em palavras).
Þ Caderno de produções de textos individual (para registro de histórias com ou sem desenho, relatos de acontecimentos, notícias, listas de palavras etc.). Esse caderno pode ser trabalhado em casa ou em sala de aula.
Þ Leitura de diferentes textos: livros, revistas, partes de jornais, cartas, bilhetes, convites, propagandas, anúncios, músicas, poesias, parlendas, adivinhações, trava-línguas etc.
Þ Leitura e narração de histórias pelo professor (permite a macrovinculação do texto escrito com o discurso oral).
O TRABALHO COM SÍLABAS
A criança começa a construção da sílaba desde o nível silábico, quando percebe que não pode ler o que foi escrito por ela. Prossegue no nível silábico-alfabético quando acrescenta letras nos seus escritos sem resolver o problema, que só vai ser superado com a escrita alfabética no nível alfabético.
A introdução sistemática das famílias silábicas não é o modo mais indicado para ajudar alunos alfabéticos a evoluir em suas concepções sobre a escrita. E muito mais indicado encorajá-los a refletir sobre a pronúncia para pensar a escrita. A percepção auditiva entra como matéria-prima em todo o trabalho de inteligência, e o fato de nossa língua não ser inteiramente fonética implica, subsidiariamente, uma elaboração mental dos elementos ouvidos para chegar à escrita.
Nesta proposta didática, sugere-se desenvolver um trabalho com sílabas começando pela sua identificação parcial, pelo desmembramento das palavras em todas as suas sílabas e pela montagem de palavras por meio de sílabas, só chegando às famílias silábicas através das descobertas dos próprios alunos.
O professor deve permitir ao aluno explorar ao máximo o mundo das palavras, das frases, dos textos e das letras, incentivando-o a extrair o máximo de conhecimentos por conta própria, e só entrar com a sistematização clássica se for necessário, e da forma mais construtiva possível, sem nenhuma ordenação de dificuldades.
Sugestões de atividades para o trabalho com sílabas
No trabalho com sílabas é preciso levar em conta as condições cognitivas das crianças, que concernem a:
Þ distinção de uma só sílaba na palavra escrita;
Þ distinção estável de todas as sílabas das palavras (classificar palavras de acordo com o número de sílabas);
Þ possibilidade de considerar sílabas independentemente da sua inserção em palavras concretas;
Þ condições para classificar sílabas de acordo com o número de letras que a constituem, letra inicial ou final da sílaba etc.